terça-feira, 27 de novembro de 2012

Análise psicológica do filme "Doze homens e uma sentença" - Por Camila Sodré Costa


O grupo apresentado no filme é formado por 12 homens, que fazem parte de um júri popular, onde terão que decidir sobre a condenação ou não de um rapaz de 18 anos acusado de ter matado o próprio pai. Essa decisão, que deverá ser unânime, poderá implicar na condenação à pena de morte desse rapaz. Esse júri já está assistindo o julgamento há três dias, e o ambiente onde terão que ficar até tomarem uma decisão unânime, é um local pequeno com uma mesa central, cadeiras nada confortáveis, sem ventilação adequada (e o ar condicionado estragado) em um dia quente de verão, e um banheiro. A porta da sala fica fechada pelo lado de fora e quem possui a chave é um guarda, que se o grupo precisar de alguma coisa deve chamá-lo. É de extrema importância a escolha do local para a realização de qualquer formação de grupo, pois o espaço e as dimensões físicas do ambiente são elemento importante que o grupo usará ativamente. No caso do filme, as cadeiras teriam que ser bem confortáveis, considerando que o grupo sairia do local no momento em que todos concordassem com a decisão e, isso poderia levar muitas horas. A sala deveria ter pelo menos um ventilador. Todos esses fatores contribuíram muito para a irritação e agressividade do grupo, isso foi uma condição exaustiva inicialmente.
Os 12 componentes são todos de origens, condições sociais, idades, religiões diferentes; que no momento inicial parecem estar todos de acordo com a decisão da condenação do réu, até o momento em que um senhor (um dos mais velhos do grupo) não concorda e pede que todos conversem sobre o assunto e não simplesmente deem os seus votos declarando-o culpado pelo crime sem ao menos discutirem o assunto, afinal de contas está em jogo a vida de alguém. Neste momento onde é proposto ao grupo pensar sobre a questão, discutir, argumentar, questões individuais começam a emergir no grupo.
Todos componentes do grupo obedecem a leis do inconsciente, correspondendo a fantasias inconscientes de cada um e de todos e manifestam-se como defesas regressivas que acabam por opor-se ao desenvolvimento e evolução do grupo.
No filme há a busca de um líder que provenha as necessidades dos indivíduos e do grupo e que o direcionará para o cumprimento da tarefa, é manifestado pela figura do jurado número 1, já que a princípio assume formalmente como líder pelo fato de ser o responsável pela organização do grupo. O movimento de luta e fuga surge no momento em que os integrantes começam a se enfrentar por terem idéias contrárias e há um certo afastamento do líder formal (primeiro jurado), que era a pessoa que tentava por ordem no grupo fazendo com que cada um respeitasse a vez do outro falar. O grupo mostra o afastamento quando começam a questionar a sua liderança e outras pessoas tentam assumir essa posição.
Inicialmente o grupo se apresenta como de supostos básicos buscando a satisfação instantânea dos desejos de seus membros e dos seus próprios desejos, e estão orientados para dentro, no sentido das suas fantasias subjetivas, e não para fora, em contato com a realidade objetiva, parecendo ter uma mentalidade grupal, pois a maioria apresenta uma coesão de pensamento (o réu é culpado) e o mesmo objetivo (acabar logo com aquela situação e ir embora).
No momento que um integrante tem coragem de enfrentar o grupo e convidar a todos que despendam no mínimo uma hora para pensar na decisão que iriam tomar, começa a se formar subgrupo com opiniões diferentes. Os dois senhores mais velhos se unem para que todos discutam os assuntos e os restantes tentam os convencer de que o rapaz é culpado, aos poucos apresentam argumentos válidos fazendo com que outros reflitam e acabem pouco a pouco concordando com a idéia de inocência.
Todos tinham como certa a condenação do rapaz, e por motivos particulares achavam mais fácil dizer que a sentença era de condenado, mas no momento em que são convidados em pensar no que realmente está acontecendo e isso envolve rever conceitos individuais, de respeitar a opinião do outro, de admitir não ser o dono da razão, traz sofrimento por mexer em coisas que pareciam estar resolvidas, mas não estavam, só precisavam de algo que as "cutucassem". Diante disso as diversas personalidades começam a se manifestar, e o que parecia simples de decidir torna-se um imenso conflito.
O grupo se desorganiza, diante disso o líder formal sugere que seja feita uma nova votação, a situação criada dentro do grupo encontra-se intensamente carregada de emoção, essas emoções exercem uma forte influência sobre os integrantes do grupo, muitas vezes até desorientando a atividade do grupo. O primeiro integrante que se opôs ao grupo, utiliza fortes argumentos a fim de convencer os demais membros.
O grupo então após todos reverem sua decisão opta em votação unânime por inocente, e finalmente conseguem atingir a fase de união, onde o grupo apresenta maturidade para lidar com os conflitos, as diferenças individuais, as incertezas e as emoções.

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