sábado, 29 de setembro de 2012

Behaviorismo e Gestalt - Por: Camila Sodré Costa


Behaviorismo
Behaviorismo (comportamento, conduta), também designado de comportamentalismo, é o conjunto das teorias psicológicas que definem o comportamento como o mais adequado objeto de estudo da Psicologia. O comportamento geralmente é definido por meio das unidades analíticas respostas e estímulos investigados pelos métodos utilizados pela ciência natural chamada Análise do Comportamento.
Como precedentes do Comportamentismo podem ser considerados os fisiólogos russosVladimir Mikhailovich Bechterev e Ivan Petrovich Pavlov. Bechterev, grande estudioso de neurologia e psicofisiologia, foi o primeiro a propor uma Psicologia cuja pesquisa se basea no comportamento, em sua Psicologia Objetiva. Pavlov, por sua vez, foi o primeiro a propor o modelo de condicionamento do comportamento conhecido como reflexo condicionado, e tornou-se conceituado com suas experiências de condicionamento com cães.

Tipos de Behaviorismo:
·         Behaviorismo Clássico
O Behaviorismo Clássico apresenta a Psicologia como um ramo puramente objetivo e experimental das ciências naturais. A finalidade da Psicologia seria prever e controlar o comportamento de todo e qualquer indivíduo.
A proposta era abandonar, o estudo dos processos mentais, como pensamento ou sentimentos, mudando o foco da Psicologia, para o comportamento observável. Adotava um esquema S-R (estimolo – resposta). No caso, comportamento seria qualquer mudança observada, em um organismo, que fossem consequência de algum estímulo ambiental anterior, especialmente alterações nos sistemas glandular e motor.
·         Neobehaviorismo Mediacional
o   Segundo Edward C. Tolman
Vários comportamentos não puderam ser modelados no Behaviorismo Clássico.  Em resposta a isso, vários psicólogos propuseram modelos behavioristas diferentes. Destes podemos destacar Edward C. Tolman, primeiro psicólogo do comportamentalismo tradicionalmente chamado Neobehaviorismo Mediacional.
Esse modelo apresentava um esquema S-O-R (estímulo-organismo-resposta) onde, entre o estímulo e a resposta, o organismo passa por eventos mediacionais. Esses eventos seriam, um componente do processo comportamental que conectaria os estímulos e as respostas, sendo os eventos mediacionais processos internos.
o   Segundo Clark L. Hull
Ainda baseada o paradigma S-O-R, entretanto, para Hull, essas variáveis mediacionais eram caracterizadamente intra-organísmicas, e neurofisiológicas. Esse é o principal ponto de discordância entre os dois autores: enquanto Tolman efetivamente trabalhava com conceitos mentalistas como memória, cognição etc. Hull rejeitava os conceitos cognitivistas em nome de variáveis mediacionais neurofisiológicas.
De um lado, Tolman adotava a abordagem  onde o indivíduo é dividido entre corpo e mente (embora assumindo-se que o estudo da mente não possa ser feito diretamente); de outro, Hull adota uma posição onde o organismo é puramente neurofisiológico.
·         Behaviorismo Filosófico
O Behaviorismo Filosófico (também chamado Behaviorismo Analítico e Behaviorismo Lógico) é a teoria que trata do sentido e da semântica das estruturas de pensamento e dos conceitos. Defende que a idéia de estado mental é, na verdade, a idéia de disposição comportamental ou tendências comportamentais. Afirmações sobre o que se denomina estados mentais seriam, então, apenas descrições de comportamentos, ou padrões de comportamentos.
·         Behaviorismo Metológico
O behaviorismo metodológico entende o comportamento apenas como respostas públicas dos organismos. A questão da observabilidade é central. Somente eventos diretamente observáveis e replicáveis seriam admitidos para tratamento por uma ciência, inclusive uma ciência do comportamento. Essa admissão decorre apenas por uma questão de acessibilidade, ou seja, não seria possível uma ciência de eventos privados simplesmente por eles serem desta ordem, privados.
·         Behaviorismo Radical
O Behaviorismo Radical foi desenvolvido não como um campo de pesquisa experimental, mas sim uma proposta de filosofia sobre o comportamento humano. As pesquisas experimentais constituem a Análise Experimental do Comportamento, enquanto as aplicações práticas fazem parte da Análise Aplicada do Comportamento. O Behaviorismo Radical seria uma filosofia da ciência do comportamento.

Argumentos Beharioristas:
Existe a epistêmica, afirmações sobre estados internos dos organismos feitas por observadores são baseadas no comportamento do organismo. Por exemplo, a afirmação de que um rato sabe o caminho para o alimento é baseada na observação do fato de que o animal chegou até o alimento, o que é um comportamento. Para um behaviorista, os chamados fenômenos mentais poderiam muito bem ser apenas padrões de comportamento.
Outro argumento muito popular a favor do Behaviorismo é a idéia de que estados internos não provêm explicações para comportamentos externos por eles mesmos serem comportamentos. Explicar o comportamento animal exigiria uma apresentação do problema em termos diferentes do conceito sendo apresentado. Para um comportamentalista, estados mentais são comportamentos, de modo que utilizá-los como estímulos resultariam em uma referência circular. Para o behaviorista, estados internos só seriam válidos como comportamentos a serem explicados; uma teoria que seguisse tal princípio, porém, seria comportamentalista.

Críticas:
Uma das razões comumente apontadas é o desenvolvimento das neurociências. Essas disciplinas jogaram nova luz sobre o funcionamento interno do cérebro, abrindo margens para paradigmas mais modernos na Psicologia. Outra crítica ao Behaviorismo afirma que o comportamento não depende tanto mais dos estímulos quanto da história de aprendizagem ou da representação do ambiente do indivíduo. Vários críticos apontam para o fato de que um comportamento não precisa ser conseqüência de um estímulo postulado. Uma pessoa pode se comportar como se sentisse cócegas, dor ou qualquer outra sensação mesmo se não estiver sentindo nada.
Noam Chomsky foi um crítico do Behaviorismo, e apresentou uma suposta limitação do Comportamentalismo para modelar a linguagem, especialmente a aprendizagem. O Behaviorismo não pode, segundo Chomsky, explicar bem fenômenos linguísticos como a rápida apreensão da linguagem por crianças pequenas. Chomsky afirmava que, para um indivíduo responder a uma questão com uma frase, ele teria de escolher dentre um número virtualmente infinito de frases qual usar, e essa habilidade não era alcançada perante o constante reforçamento do uso de cada uma das frases. O poder de comunicação do ser humano, segundo Chomsky, seria resultado de ferramentas cognitivas gramaticais inatas.



Gestalt: A psicologia da forma
A Psicologia da Gestalt é uma das tendências teóricas mais coerentes e coesas da história da Psicologia. Seus articuladores se preocuparam em construir não só uma teoria consistente, mas também uma base metodológica forte, que garantisse a consistência teórica.
Gestalt é um termo alemão de difícil tradução. O termo mais próximo em português seria forma ou configuração, que não é muito utilizado por não corresponder exatamente ao seu real significado em Psicologia. No final do século passado muitos estudiosos procuravam compreender o fenômeno psicológico em seus aspectos naturais (principalmente no sentido da mensurabilidade). A Psicofísica estava em voga.
Ernst Mach (1838-1916), físico, e Chrinstiam Von Ehrenfels (1859-1932), filósofo e psicólogo, desenvolviam uma psicofísica com estudos sobre as sensações (o dado psicológico) de espaço-forma e tempo-forma (o dado físico) e podem ser considerados como os mais diretos antecessores da Psicologia da Gestalt. Max Wertheimer, Wolfgang Köhler e Kurt Koffka, baseados nos estudos psicofísicos que relacionaram a forma e sua percepção, construíram as bases de uma teoria eminentemente psicológica.
Eles iniciaram seus estudos pela percepção e sensação do movimento. Os Gestaltistas estavam preocupados em compreender quais os processos psicológicos envolvidos na ilusão de ótica, quando o estímulo físico é percebido pelo sujeito com uma forma diferente do que ele é na realidade.

A percepção
A percepção é o ponto de partida e um dos temas centrais dessa teoria. Os experimentos com a percepção levaram os gestaltistas ao questionamento da psicologia associacionista.
O Behaviorismo, dentro de sua preocupação com a objetividade, estuda o comportamento através da relação estímulo-resposta, procurando isolar um estímulo unitário que corresponderia à uma dada resposta e desprezando os conteúdos da consciência, pela impossibilidade de controlar cientificamente essas variáveis.
A Gestalt entende que é de suma importância a disposição em que são apresentados à percepção os elementos unitários que compõem o todo. Uma de suas formulações bastante conhecidas é a de que "o todo é diferente da soma das partes". Ou seja, a percepção que temos de um todo não é o resultado de um processo de simples adição das partes que o compõem.
A indissociabilidade da parte em relação ao todo permite que quando vemos o fragmento de um objeto ocorra uma tendência à restauração do equilíbrio da forma, proporcionando assim o entendimento do que foi percebido.
Esse fenômeno perceptivo é norteado pela busca de fechamento, simetria e regularidade dos pontos que compõem uma figura (objeto).

A boa forma
A partir desses fenômenos da percepção a Gestalt procura explicar como chegamos a compreender aquilo que percebemos. Se os elementos percebidos não apresentam equilíbrio, simetria, estabilidade, simplicidade e regularidade, não será possível alcançar a boa-forma.
O elemento que objetivamos compreender deve ser apresentado em seus aspectos básicos, de tal maneira que a tendência à boa-forma conduza ao entendimento. Essa formulação representa uma das conseqüências pedagógicas da psicologia da Gestalt.


Relação figura / fundo
O fundo é o que podemos chamar de campo visual. É caracterizado pela sua homogeneidade. Passa despercebido e é complementar da figura. Consideramos figura o que está em primeiro plano.


Campo psicológico
O campo psicológico é entendido como um campo de forças que atua na percepção, nos levando a procurar a boa-forma. Figurativamente podemos relacioná-lo a um campo magnético criado por um imã (a força de atração e repulsão). Esse campo de força psicológico tem uma tendência que garante a busca da melhor forma possível em situações que não estão muito estruturadas.
Esse processo ocorre de acordo com os seguintes princípios:

1.       Proximidade: Os elementos mais próximos tendem a ser agrupados.
2.       Semelhança: Os elementos semelhantes são agrupados.
3.    Fechamento: Ocorre uma tendência de completar os elementos faltantes para garantir a compreensão.
4.       Lei da pregnância: Uma forma é pregnante quando se impõe com força e clareza. Quanto mais definida for a sua estrutura, mais simples, mais regular ou mais simétrica, mais pregnante será a forma.

Insight
A psicologia da Gestalt entende a aprendizagem como uma decorrência da forma como as partes estão organizadas no todo.
As teorias associacionistas entendem que a aprendizagem ocorre através da associação de elementos que anteriormente estavam isolados e assim, por um processo aditivo, passa-se de um conhecimento simples a um complexo. Os métodos de alfabetização podem nos auxiliar a pensar algumas questões relativas a diferentes maneiras de conceber a aprendizagem. Os chamados métodos sintéticos entendem que deve-se inicialmente ensinar a criança a nomear, grafar e reproduzir o valor sonoro de todas as letras (elementos mais simples) e, depois disso, ela estará apta a associar as letras entre si para formar sílabas. Na seqüência ela associará sílabas entre si para formar palavras e finalmente formará orações. Os chamados métodos analíticos seguem um caminho exatamente oposto, pois primeiramente é apresentado o todo (palavra, frase ou texto), enquanto unidade de significação, e somente após partem para o exame das partes e das relações que elas mantém entre si para formarem esse todo.
Quanto à questão do insight, podemos dizer que nem sempre as situações vividas por nós apresentam-se de forma clara que permitam uma compreensão imediata. Essas situações dificultam a aprendizagem porque não permitem uma definição da figurafundo, impedindo a relação parte-todo.
Acontece, às vezes, de estarmos olhando uma figura ou estarmos pensando em algo que nos parece bastante obscuro e, derepente, sem que tenhamos tido qualquer processo de compreensão aditivo (somando as partes mais simples), a relação figura-fundo elucida-se.
A esse fenômeno é dado o nome de insight. O termo designa uma compreensão imediata e súbita.

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